Vergílio Ferreira, «Escrever», # 67, pg. 48
Escrever o quê? Pensar o quê? É extraordinário que as pessoas se não dêem conta. Pensar coisas, escrever coisas, realizar a vida como se tudo fosse natural. Mas nada na vida é hoje natural. Outrora tudo o foi porque a vida o era. Ela subjazia com a evidência de ser vida, a tudo quanto se fizesse por sobre ela. (...) Não há problema algum para a vida senão o da reflexão sobre ela própria. O seu significado. O seu destino. A fundamentação do seu valor. A da ética. A da sua iluminação em frente à morte. A reflexão sobre o inquietante e incompreensível do universo. Do próprio homem. Da organização e significação do seu corpo. (...) A vida é o que há de mais anti-natural. E é por isso que há morte para isso explicar.
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