06 junho 2005

Vergílio Ferreira, «Escrever», # 144, pg. 99

Se Eva não existisse, não poderia Adão pensar «eu». Há quantos anos o escrevi. (...) Ao princípio era o «tu». E todavia não é verdade. (...) Se todos os homens fossem gagos, só o poderiam saber que o eram depois de haver quem o não fosse. Iríamos por isso concluir que o primeiro era o não-gago? Ao princípio era o «eu» e não o «tu». Mas sem o «tu» não poderíamos pensar o «eu». E todo o pensar está aqui. Ou não bem aqui, mas antes, quando o «eu» apenas se vivencia para só depois se pensar. É o erro do cogito cartesiano. Não. Sou logo penso que sou, ou seja, penso no «eu» que pensa. Ou seja - sou, logo penso que sou e que portanto «existo».