26 julho 2005

Vergílio Ferreira, «Escrever», # 242, pg. 153

O meu país reparte-se por três zonas distintas - o mar, a planície e a montanha. O mar ocupa o núcleo central na História e ouve-se em toda a nossa literatura, desde que as «ondas do mar de Vigo» às obras dos descobrimentos e à poesia de Nobre e de Pessoa. A planície arde em certas páginas de Fialho e é um pouco pitoresca na poesia do Conde de Monsaraz. E a montanha mitifica-se em Pascoaes. Dessa tríplice raiz eu sou. Aprendi a montanha ao nascer, tive a primeira noção do mar na infância e fiz uma longa aprendizagem da planície na idade adulta. Hoje tenho o país todo dentro de mim e sinto-o circular-me nas veias ao pulsar do coração. Assim o meu ser sensível se reparte com o que nele se repartiu.