08 agosto 2005

Vergílio Ferreira, «Escrever», # 190, pg. 121

A questão o «eu». Ela desenvolve-se sempre para cá da sua realidade fundamental. Porque essa realidade é uma vivência e como tal inexplicável. Antes de tudo quanto se possa dizer sobre ele, há a sua experimentação na zona do indizível. Como na do inexplicável de uma cor que se vê ou de uma dor que se sente. Ou de tudo que é investido da sensibilidade do homem. O cogito cartesiano é de uma curiosa ingenuidade. Porque quando digo «penso» já estou a «existir». Nem o «pensar» tem aqui que fazer. «Existo, logo sinto-me a ser». Por cima disso já se pode pensar o que se quiser. «Existo» ou seja «sinto-me a ser eu». Ou se quisermos o «pensar» é intrínseco ao dizê-lo. Ou ao consciencializá-lo.